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Batman & Lovecraft: as cinco principais influências

Raros são os aficcionados por histórias de horror que não tenham pelo menos ouvido falar em H.P. Lovecraft, um dos maiores nomes da história dos pulps, aquelas revistas publicadas em papel barato, vendidas nas bancas dos EUA por centavos, muito populares na época da Grande Depressão, e que foram uma espécie de predecessoras das revistas em quadrinhos. O escritor americano morreu aos 46 anos em 1937, dois anos antes, portanto, da estreia de Batman na revista Detective Comics #27, com data de capa de maio de 1939. É praticamente um consenso entre os especialistas que quase tudo o que se produziu em termos de terror e ficção científica de lá para cá tem alguma influência dos contos escritos por ele, cuja fama só surgiu de verdade após a data de sua morte.

Será verdade? Será que é possível encontrar algo de lovecraftiano nas aventuras do Homem-Morcego? É o que veremos a seguir nesta lista: as cinco principais influências de Lovecraft em Batman.

1. O Medo

“Criminosos são supersticiosos e covardes; então meu disfarce deve levar o terror a seus corações”. Não há fã de Batman que desconheça essa resolução feita por Bruce Wayne na noite em que um morcego espatifou uma das janelas de sua mansão, correto? Da mesma forma não há leitor assíduo de Lovecraft que desconheça esta sua citação: “O medo é a emoção mais forte e mais antiga do ser humano, e o medo do desconhecido é o mais forte e o mais antigo dos medos”. A frase não pertence a nenhum de suas dezenas de contos, mas é a abertura de um ensaio escrito pelo autor chamado “Horror Sobrenatural em Literatura”, de 1927.

Não é possível dizer com toda certeza que Bob Kane ou Bill Finger tenham lido e que estivessem com tal texto em mente doze anos depois, quando criaram seu mais famoso personagem. Mas com o decorrer do tempo, conforme aumentavam paralelamente a importância do Cavaleiro das Trevas nos quadrinhos e a influência das ideias lovecraftianas na literatura, é nítido como essas concepções de mundo se aproximaram.

2. A Loucura

Depois do medo, a maior característica associada a ambos, o personagem fictício e o escritor de horror, também coincide. Batman tem talvez a maior e mais famosa galeria de vilões das HQs e um ponto em comum à maioria de seus integrantes é a insanidade mental. O Coringa é o maior exemplo disso, mas está longe de ser o único. Da mesma forma, a loucura é o destino de vários personagens criados por Lovecraft ao se depararem com horrores indescritíveis que deixam evidente a pequenez e a desimportância da humanidade perante a infinidade do cosmos.

3. Arkham

Tamanha é a concentração de criminosos insanos em Gotham que foi criado um lugar para prender (mesmo que entre uma fuga e outra) todos eles. O Asilo Arkham é uma criação de Denny O’Neil, de 1974, que se tornou um cenário fundamental para várias histórias do Morcego, seja nos quadrinhos, como na famosa graphic novel de mesmo nome escrita por Grant Morrison, seja nos games (Arkham Asylum, Arkham City e Arkham Knight), seja no cinema (como no primeiro filme da trilogia Nolan).

Este é o mesmo nome da mais famosa e recorrente cidade fictícia criada por Lovecraft, palco de várias de suas histórias, como A Cor que Caiu do Espaço (1927) e A Coisa na Soleira da Porta (1937). Neste caso, nada de coincidência, O’Neil estava de fato fazendo uma homenagem ao escritor.

4. O Sr. Frio

Outra criação dos quadrinhos que pode ser encarada como uma homenagem à obra do autor é um dos maiores vilões da galeria de Batman. O Sr. Frio foi criado em 1959 por Dave Wood e Sheldon Moldoff, originalmente como Mr. Zero (somente algum tempo depois seu nome no original foi modificado para o atual Mr. Freeze). Em sua origem mais conhecida, influenciada pela versão da animação de Paul Dini, Victor Fries é um cientista que depende de temperaturas gélidas para se manter vivo. Um mote que resume o Doutor Muñoz, personagem criado por Lovecraft para o conto “Ar Frio”, de 1928 (conto que está sendo adaptado para os quadrinhos pela Skript, e em pré-venda: https://www.catarse.me/arfrio)

5. A Cidade Natal

Tanto Batman quanto Lovecraft são definidos pelo lugar a que chamam de lar. Como pensar no Homem-Morcego sem ter em mente os arranha-céus decorados com gárgulas iluminados pela lua cheia de Gotham City? Da mesma maneira a identificação de H.P. Lovecraft com sua origem foi tamanha que em sua lápide está gravada a frase que ele registrou em carta ao retornar para casa após uma curta e conturbada passagem por Nova York: “I am Providence”.

Embora ainda não tenha sido publicada no Brasil, quando escrito este texto (setembro/2020), uma nova relação nada sutil entre o Pai do Horror Cósmico e o Cavaleiro das Trevas surgiu nas edições mais recentes dos quadrinhos norte-americanos, na saga Death Metal, onde temos um BAT-CTHULHU…. Com certeza, esta sinérgica parceria perdurará por muitas outras décadas…

Romeu Martins

Jornalista. Organizador e escritor de obras pela Darkside e Skript. Roteirista das adaptações (por enquanto, virão outras) para os quadrinhos: “A Cor que Caiu do Espaço" e "Ar Frio" pela Skript.