Bruce Wayne Contra o MundoColunas

Batman & Capitão América

ATENÇÃO!
Este texto contém altos spoilers de “Batman & Capitão América”.
Depois não diz que eu não avisei.

É difícil dissociar o nome Bill Finger do Batman.
Mais difícil ainda é entender como, até recentemente, pouca gente conhecia a importância do roteirista à mitologia do herói. Por muito tempo (e ainda hoje acontece ocasionalmente), foi padrão dar crédito exclusivo ao desenhista Bob Kane – que se beneficiou por ter sido quem primeiro apresentou o personagen aos editores na época – relegando o escritor ao posto de mero “ghost writer”. O roteirista sem crédito.

Foi só em 2015… 76 anos após a primeira aparição do Homem-Morcego… que Bill Finger passou a ser creditado oficialmente como cocriador.

O que pouca gente sabe é que, além de cocriador do Batman, da Lana Lang e do Alan Scott, o Lanterna Verde original, o Finger pôs o dedo (haaaa ha haa aaiai) em outro herói icônico dessa época.
Ninguém menos que o Capitão América!
Ele participou da criação do Esquadrão Vitorioso (All-Winners Squad), o primeiro time de heróis da Timely Comics (hoje conhecida como Marvel, dãã), que tinha como membros Capitão, Bucky, Tocha Humana, Centelha, Namor, Miss América e Ciclone.
Mas eu também não vou fingir que sei nada além disso.

O que nos leva ao ano de 1996 quando, no embalo do crossover geral Marvel vs DC, foi lançado na série Elsewords (o Túnel do Tempo pros leitores brasileiros nostálgicos, com histórias desconectadas das amarras cronológicas, espaciais e temporais), de autoria do John Byrne, o esperado encontro BATMAN & CAPITÃO AMÉRICA!

Eu só nunca entendi muito bem por que era tão esperado.

Citando o próprio Marvel vs DC, os grandes confrontos eram aqueles entre personagens equivalentes.
Os hiperpoderosos Thor e Superman. Os adolescentes Robin e Jubileu. Os favoritos da garotada (e clones) Homem-Aranha e Superboy. Os agressivos Lobo e Wolverine. As deusas Mulher-Maravilha e Tempestade. Os velocistas Flash e Mercúrio. As anti-heroínas Elektra e Mulher-Gato. Os… hã… nadadores… Aquaman e Namor.
No caso do Batman e Capitão, eu não via relação entre os dois.

Mas depois desse BATMAN & CAPITÃO AMÉRICA, eu…
Bom, eu continuo não vendo muita relação entre eles.
Ainda assim, o Byrne cria uma dinâmica legal pros dois.

A HQ se passa no começo de 1945, ano final da 2ª Guerra Mundial.
É uma ideia bacana ver um personagem como o Batman inserido no contexto de guerra do Capitão, misturando os dois conceitos, alternando o colorido inocente dos super-heróis da época com o peso do que sabemos hoje que foi aquele conflito.


Tem até participação marota do Sgt. Rock!

Mas é bobo ver o contraste “noite e dia” que já tanto vimos no relacionamento entre Batman e Superman, ser forçado aqui nessa história. Por mais que a narração estilo Frank Miller do homem-morcego tente pintá-lo como um herói sombrio, o estilo do personagem nessa época não contribui.
Somando-se a isso uma trama sem muitas reviravoltas e um final sem muito sentido, o encontro diverte, mas não se propõe a ser nada além de uma história bacaninha e (muito) bem desenhada, com bons momentos (Batman e Capitão traem o movimento crosseiro ao se encontrarem pela primeira vez sem rolar treta… mas a treta acontece depois entre Bruce e Steve, o que dá uma movimentada bem interessante no padrão) e algumas boas sacadas… como incluir na trama o físico Robert Oppenheimer (CUIDADO COM O SPOILER DE SEGUNDA GUERRA!) e sua mais conhecida criação… (OLHA O SPOILER DE SEGUNDA GUERRA!) a bomba atômica. (EU AVISEI DO SPOILER DE SEGUNDA GUERRA!)

Vale também um destaque para o Coringa revoltado ao se perceber trabalhando para o nazista Caveira Vermelha.

O Bucky, coitado, que até arrisca algum potencial a ser aproveitado como paralelo ao Robin na história, é relegado ao papel de completo inútil.
E o Batman mostra que já treinava pra sobreviver à explosão do final de O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Quem disse que o Nolan não estudou os quadrinhos?…

Mas lembra todo o papo que tivemos lá no começo do texto?
Só pra citar algumas das criações do Finger que são destaque nessa história, podemos listar:

– Todo o visual do Batman

– O nome Bruce Wayne

– Robin

– Coringa

– Batcaverna (e praticamente tudo nela)

– O nome Gotham City

– Batplano (que antes era sempre desenhado como um helicóptero)

– Comissário Gordon

– Batmóvel

 

Mesmo assim, esse é o reconhecimento que ele recebeu:

Ponto.
Nenhuma menção, nenhum agradecimento.
Nenhuma nota de rodapé.
Sem crédito nenhum numa história que se apropria de um universo que ele criou e outro personagem que ele escreveu anos depois.
Mesmo que todo o crédito ao seu nome ainda seja muito recente, precisamos dar uma olhada no passado para perceber a injustiça de se relegar um talento como o dele ao seu quase esquecimento.
E ainda que o próprio Finger parecesse não se importar com esse reconhecimento, isso só mostra o desmerecimento que ele deveria sentir em vida.

Bill Finger nasceu em 1914.
Cocriou o Batman em 1939.
Morreu em 1974.
E só ganhou o reconhecimento que merecia em 2015.

Que seja sempre lembrado entre os grandes a partir de agora.
É o mínimo que podemos oferecer a uma lenda.

 

PS1: alguém sabe quem caráááleos é a mulher que aparece DO NADA na cena que o Batman e o Bucky tão aprisionados pelo Caveira Vermelha?
Quem acertar terá o nome citado nesta coluna, prometo!


Bleh, deixa pra lá. Claramente não é ninguém digno de nota.

PS2: eu nem ia falar nada porque não sou muito fã da história, mas os chefões aqui do Mansão Wayne me pressionaram pra dizer que o final do crossover foi o início do que viria a ser Gerações.

Fica aí a informação!

PS3: O Bill Fingerstambém é criador de um grupo de vilões do Batman, na edição Batman #167, de novembro de 1964.
Uma organização secreta que se esconde nas sombras, chamada…

HYDRA!

  

É o próprio Comissário Gordon quem explica o conceito da organização: você corta uma cabeça, e nasce outra. E foi quando um dos leitores corrigiu a lenda.
Pra cada cabeça que cortar, duas outras tomarão seu lugar.

Menos de um ano depois, foi lançada Strange Tales #135, por Stan Lee e Jack Kirby.
E em agosto de 1965, a Marvel coincidentemente tinha sua própria Hidra.
Que cresceu e se tornou uma das grandes ameaças ao universo Marvel tanto nos quadrinhos quanto no universo cinematográfico.

Doidera, né!
O que há de se fazer, não é mesmo…?

“E você, amigo leitor, amiga leitora, o que você achou?”
– perguntou NINGUÉM! HÁÁÁ HÁ HÁ Á H HÁ!

Não não, to brincando, conta aqui pra gente.
Qualquer coisa. Tudo o que você quiser.
Conta, desabafa, o mundo é teu.

Thiago Brancatelli

Lindo, alto e charmoso. Não possui bichos de estimação, mas divide o aluguel com um cachorro vira-lata chamado Tyler. Já fez tudo o que queria antes dos 30, por isso passa seus dias deitado no sofá lendo quadrinhos, vendo Netflix e comendo Tortuguitas. Está em um relacionamento sério com o site XVideos, mas é apenas pelo sexo.