Bruce Wayne Contra o MundoColunas

BATMAN & HELLBOY (e Starman)

ATENÇÃO!
Este texto contém altos spoilers da edição “Batman/Hellboy/Starman”.
Depois não diz que eu não avisei.

bat hell 1

Nota do Brancatelli: esse post vai ter imagem pra caralho, por motivos de “eu quero assim”. Abraço.

É raro ver um crossover de qualquer personagem com o Hellboy.
O vermelhão vive em seu próprio universo bizarro, moldado cuidadosamente por seu criador, Mike Mignola, sempre envolvido nos roteiros, desenhos, ou ao menos na supervisão de tudo relacionado ao personagem, como uma espécie de “showrunner”.
Possivelmente querendo raspar o tacho da onda de crossovers que varreu as bancas nos anos 90, a DC resolveu aproveitar a crescente popularidade do Hellboy promovendo um encontro dele com talvez sua mais aclamada criação daquela década: o Starman. Personagem das antigas revitalizado pelo roteirista James Robinson, o Starman era um adolescente sem nenhum talento heróico, o que permitia aos leitores acompanharem seu amadurecimento. Coisa que, na mesma época, a editora também fez com o Kyle Rayner, o Connor Hawke, entre outros. Basicamente, o que a Marvel tinha começado lá nos anos 60 com um herói hoje já esquecido, chamado “o Homem-Aranha”. Enfim. Calhou que o Starman funcionou, foi sucesso de público e crítica, ganhou um prêmio Eisner e completou uma fase redondinha que foi de 1994 até 2001.
Querendo fazer um encontro simbólico entre os dois personagens-que-ninguém-conhece mais populares daquela década, deve ter rolado a dúvida: “beleza.. mas como é que a gente vai vender isso?”
A solução também foi simbólica para a década de 90.

“Ah. Mete o Batman desnecessariamente no meio e ta show!”

[Nota do colunista: isso tudo não passa de uma suposição minha, visto que eu tinha apenas 13 anos na época da história e sequer tinha fontes confiáveis sobre o que se passava a portas fechadas na DC Comics.]

“Mete o Bátima aí nessa pourra e partiu! aêaêaê caralho”

Esse pra mim é o único ponto de partida possível que justifique a presença do Homem-Morcego nisso que recebe o simples nome de Batman/Hellboy/Starman, HQ em duas edições roteirizada pelo Robinson e desenhada pelo Mignola.

capa

Primeiramente (fora Temer), vamos entender uma coisa.
James Robinson não é um bom roteirista.
Podemos dizer que, com Starman, ele criou a única coisa realmente boa que já escreveu na vida. Eu já li tudo o que ele escreveu? Não! Eu pretendo ler? Nem fodendo!! Eu quero ler? Deus me livre!!! Mas mesmo assim, eu posso dizer: James Robinson é um escritor medíocre. Se você precisa de provas.. bom, vamos sempre lembrar que ele cometeu o roteiro do filme da Liga Extraordinária. Lembra? Pois é. Encerro meu argumento aqui.

bat hell 3
Eu sei gente. Também não gosto de lembrar disso. Desculpa. :’(

Mas foda-se tudo isso, porque poooorra, é um crossover entre Batman e Hellboy, cara.
Dai você pensa: Uaaaaaau, que ideia ducaralho, um encontro do Batman com o Hellboy, isso não tem chance de dar errado!

Só que tem sim. \o/

Porque o Robinson direciona toda a sua mediocridade a uma história sem graça, na qual um grupo de neo-nazistas místicos sequestra o Ted Knight (o primeiro Starman, das antigas), fazendo o Batman e o Hellboy unirem forças para descobrirem o motivo e, com a ajuda do Starman (Jack Knight, filho do sequestrado), irem pra Floresta Amazônica (!) resgatar o Ted e frustrar o plano de despertar um demônio ancestral, tudo isso numa trama cheia de diálogos ridículos, como por exemplo…

bat hell 4
Jura que ele não conseguiu pensar em nada menos clichê pro Coringa falar?
bat hell 5
“Um neo-nazista zumbi com poderes místicos acaba de se explodir magicamente, sussa.. mas ele disse que em breve será outubro, e ainda estamos em março, e isso é realmente estranho.” GORDON, James
bat hell 6
Puxa, da até gosto ver o Bat usar seus incríveis dons de detetive.

bat hell 7
A última imagem eu coloquei porque é essa a desculpinha ridícula que o roteiro usa para tirar o Batman da história no final da primeira edição.
Sim, o Batman (depois de protagonizar TODA a primeira edição) diz pro Hellboy que não pode abandonar Gotham, daí aparece o Starman, e daí a edição seguinte é só Hellboy e Starman contra nazistas místicos, o que apenas me comprova ainda mais que a DC só enfiou o Batman na trama pra chamar público.

bat hell 8

Na edição seguinte, a participação do Batman se limita a oferecer um avião pros dois viajarem..

bat hell 9

… e depois chegar a tempo de dar uma carona pros dois voltarem.

bat hell 10
Batman, de dia playboy milionário, de noite faz bico de Uber pra heróis perdidos.

Juro!
Exatamente com esses diálogos ridículos!

Mas daí você me pergunta:
“Caceta, Brancatrolha, mas será que nada se salva nessa birosca?!”
Ahhhhh mas aí que ta o plot twist.
Porque, em meio à mediocridade de um James Robinson, nós encontramos a genialidade de um Mike Mignola.

A arte do Mignola é exatamente isso, no sentido mais literal, puro e clássico da palavra: Arte!
Usando sombras para moldar suas figuras, exibindo seu talento para cenas épicas de páginas inteiras, e exagerando num estilo minimalista que parece simples à primeira vista, mas absurdamente complexo quando analisado, cada quadrinho é um convite a se ficar admirando por alguns minutos.
A grande graça do estilo do Mignola é a visão de cena que ele tem, unida à narrativa perfeita, sempre fugindo dos enquadramentos comuns, jogando com luz e sombras sem cair na armadilha de ficar confuso.
E, quando esquecemos do roteiro, podemos ver a excelência da arte.

bat hell 11


bat hell 12


bat hell 13bat hell 14


bat hell 15

bat hell 16

“E afinal, essa caralha vale a pena, ô Brancatellixo?”

Olha, se esses desenhos não te convenceram, então acho melhor você passar longe. Na minha opinião (que é a que importa nessa coluna), qualquer quadro do Mignola, independente do roteiro, vale a pena.
No caso de Batman/Hellboy/Starman, vou ser sincero: o roteiro não é esse lixo todo. É uma história redonda, não desrespeita nenhum dos 3 personagens principais, não ofende a inteligência do leitor. Problema é que só isso não é o bastante para se fazer uma boa história. Na real, isso é o mínimo que um roteirista deve se preocupar em fazer. E é essa a definição da palavra “medíocre”. James Robinson, tentando copiar o estilo de história do Mike Mignola, com nazistas, misticismo e monstros ao estilo Lovecraft, acaba se limitando ao medíocre, soando como um rascunho mal acabado do que seria uma verdadeira história do Hellboy.

Entendo a necessidade de colocar o Robinson para escrever o Starman, a necessidade de dividir o trabalho entre os dois criadores.
E, pensando bem, se esse foi o preço para que tivéssemos os desenhos do Mignola..
Bom, acho que até saímos no lucro.

bat hell 17

E aí? Concorda com o que eu disse? Falei mal da sua história preferida no mundo todo? Estraguei sua tarde, te fiz chorar?
Pega um lenço e vem comentar aqui em baixo. 😀

Thiago Brancatelli

Lindo, alto e charmoso. Não possui bichos de estimação, mas divide o aluguel com um cachorro vira-lata chamado Tyler. Já fez tudo o que queria antes dos 30, por isso passa seus dias deitado no sofá lendo quadrinhos, vendo Netflix e comendo Tortuguitas. Está em um relacionamento sério com o site XVideos, mas é apenas pelo sexo.