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O Calvário dos Vilões

Batman e Robin sobreviveram aos anos 1950, mas muitos de seus inimigos quase ficaram pelo caminho.

Nota do Editor: Este artigo foi extraído da Newsletter SOC! TUM! POW!, do jornalista Gustavo Vícola, que topou trazê-lo também ao Mansão Wayne. Conheça a newsletter clicando aqui.

Durante a produção das edições da Mundo dos Super-Heróis, eventualmente esbarro em informações que me levam a alguns questionamentos, os quais, embora aleatórios me atormentam até serem respondidos. A bola da vez é: qual inimigo do Batman foi o mais recorrente nas HQs na década de 1950? E não estou falando de gângsteres genéricos, mas de integrantes da famosa galeria de vilões do Homem-Morcego.

A dúvida não surgiu à toa. Na verdade, fui arrebatado por ela durante minha apuração sobre a trajetória do Charada para uma matéria da revista. Foi quando descobri que após fazer duas aparições em seu ano de estreia, 1948, o vilão só voltou a dar as caras em 1964. Ao mesmo tempo, lembrei de que o Coringa, quase onipresente nas HQs do Batman na década de 1940, teve sua presença bastante reduzida na seguinte. Eu sabia ainda que Mulher-Gato e Pinguim também não foram marcantes. Então, quem o Batman enfrentava nos anos 1950?

O período exerce uma certa fascinação nos fãs do Homem-Morcego pela personalidade dos gibis da época. Foi um momento em que a indústria se esforçava para lidar tanto com o desinteresse do público (Batman era um dos poucos super-heróis que ainda contavam com HQs periódicas) quanto com uma autocensura imposta pelas editoras (a partir de 1954) que as levou a se afastar das pesadas tramas de crimes de outrora e focar em aventuras cada vez mais fantasiosas e bobas. Com isso, Batman e Robin passaram a se bater menos com seus inimigos tradicionais e mais com alienígenas, cientistas loucos, seres de outras dimensões e trambiqueiros em geral, toda uma sorte de inimigos genéricos que dominaram a produção do período. Isso não quer dizer que supervilões não tiveram seus momentos.

Na época, a Dupla Dinâmica estrelava três séries regulares: Detective ComicsBatman e World’s Finest. As edições de cada um desses títulos estão catalogadas na central de dados DC Database, todas acompanhadas de informações do respectivo conteúdo, como os vilões de cada história. Graças às maravilhas do Excel, organizei os dados em planilhas, separei por anos e contabilizei tudo desde os gibis de 1939 (ano de estreia do Batman) até 1970. Foi um trabalho de dias, mas recompensador, pois deu um panorama interessante sobre o cenário editorial do Homem-Morcego e trouxe a resposta a minha pergunta: dentre os inimigos clássicos do Batman, o mais explorado nas HQs dos anos 1950 foi o Coringa, seguido (de longe) pela Mulher-Gato e pelo Pinguim.

Não chega a ser uma surpresa, já que o trio também liderou o ranking nos anos de 1940, mas sua performance esteve longe de ser marcante na década seguinte. Mesmo assumindo a liderança nos anos de 1950, o Coringa deu as caras em apenas 20 histórias no período (1951-1960), com uma frequência 50% menor em relação à da época anterior (1941-1950), em que enfrentou o Batman 41 vezes. A proporção é a mesma da Mulher-Gato, que marcou presença em apenas cinco histórias da década de 1950, metade de suas dez aparições nos anos 1940. A maior queda foi a do Pinguim, que teve uma redução de 78%, caindo de 28 aparições para apenas seis de uma década para outra.

Não que Batman e Robin não tenham enfrentado outros supervilões nos anos 1950. Pelo contrário, não faltaram maníacos uniformizados, mas a maioria não vingou e não passou de sua edição de estreia. Dentre os vilões que se consagrariam nos anos seguintes, poucos marcaram presença, como o Duas-Caras (com três aparições), Mariposa Assassina (três), Sr. Frio (uma) e Chapeleiro Louco (uma), ao passo de alguns sequer apareceram, caso do Cara de Barrro, do Espantalho e, claro, do Charada.

Saber que o Coringa é o vilão que mais atormentou o Batman nos anos 1950 não chega a ser surpreendente, mas os números que permitiram chegar a essa conclusão ajudam a compreender melhor essa época tão esdrúxula das HQs do Cavaleiro das Trevas. Quanto a mim, eles permitem que eu finalmente deixe essa questão de lado e fique pronto para encarar outra das angustiantes dúvidas aleatórias que costumam arrebatar os fãs de quadrinhos.